segunda-feira, 30 de maio de 2011

AVISO

"Imagina, você, que eu estava sem meus óculos! Sabe que quando eu estou sem óculos já não escuto muito bem... E aí, eu estava tão rouca, mas tão rouca, que até a voz da minha consciência tava saindo assim muito baixiiiiinha. Quase afônica a consciência minha. Não ouvi, né. Tsc, tsc..."

Ou seja.

Existe esse talento horroroso incrível para nunca faltar à ponta da língua uma explicação daquelas que desarma qualquer ser humano do outro lado do diálogo que teria todos os motivos do mundo para dar uma senhora bronca.

Portanto, VOCÊ AÍ que está prestes a cometer um desatino, um aviso: não venha me pedir conselhos, não!

Porque eu tenho uma caixinha cínica mágica cheia de desculpas ótimas para todos os meus próprios e posso acabar emprestando alguma.

P.S. Se for um desatino dos bons, tenho uma seção especial só com as melhores. Não se aproxime! (Se não quiser MESMO cometê-lo).

terça-feira, 24 de maio de 2011

E se...?

- O que eu faço com a minha saudade? Dobro e guardo no bolso?
- Teu pijama tem bolso? Porque tenho um pijama que tem bolso e nunca entendi pra que servia. Acho que descobriste.
- Não vejo utilidade melhor.
- E se ao dobrar a saudade, a saudade dobrar?

Talvez nós tenhamos descoberto a serventia de um bolso no pijama.
Será pra dobrar a saudade e guardar ali antes de dormir?

Tem saudade dobradinha que nem Origami. Colorida e com cheirinho nostálgico.
Tem mesmo! Mas também tem saudade bolinha de papel com chiclete grudado dentro.
Saudade grudenta, preguenta, que vai e volta, mancha, faz sujeira...argh!

E se esquecer a saudade no bolso e pôr o pijama pra lavar?
Será que saudade desmancha na água?
Se bem que a saudade já é mesmo meio molhada...

E se a saudade dobrada, redobrada e molhada, criar vida própria e se desdobrar por aí?
Levemos a saudade para passear!



*Este post foi escrito a muitas mãos, via facebook, com a colabaração de Luana Oliveira, de Gilda Ribeiro e de Rafael Guedes que teve um ataque de fofura e disse que leva a saudade que sente da gente no bolso d´uma bermuda de usar no sítio. =)

domingo, 22 de maio de 2011

Para guardar rancor/Para guardar amor

O tema debatido noite a dentro foi rancor. Pesado, né? E se pesa só de falar ou escrever, imagina o peso do acúmulo de um monte desses no decorrer da vida.
Eram duas as protagonistas do debate. Uma lembrava de já ter sido muito rancorosa e de hoje, simplesmente, não ser mais. Ou quase não ser. E a outra, dona de um dos melhores corações já vistos, se intitulava rancorosa com orgulho.
Claro que todos os demais debatedores envolvidos, todos muito queridos, sabiam que nem aquela havia garantido seu lugarzinho no céu por estar no time dos sem-rancor e muito menos a outra deixava de ser a dona de um dos melhores corações que conheciam por carregar nele esse desagradável peso. Mas a história rendeu.
A primeira contava que se alguém aprontava com ela na quinta-feira, no sábado já havia esquecido totalmente as razões da mágoa. Que mágoa?. A duração do seu rancor era de mais ou menos 48hs. Ia ficando pequeno até sumir. A outra falava com as mais vívidas lembranças de coisas que aconteceram há anos. E tudo seguia do mesmo tamanho.
E com toda a leveza que se era possível, graças ao amor que os debatedores tinham entre si, construiu-se e destruiu-se argumentos, fez-se piadas, detectou-se confusões. Porque a gente confunde mesmo as coisas. Será que não guardar rancor é sinônimo de se deixar fazer de bobo? E será que para fazer valer o amor-próprio é preciso guardar rancor? Então é assim: os bobos, deixam pra lá, e os cheios de personalidade, levam a ferro e fogo. Que nada! Ali a prova, eram duas bobas e cheias de personalidade, mas com níveis de rancores absolutamente diferentes, e tudo bem.
De qualquer forma, é certo que voltaram pra casa, as duas, ponderando seus rancores (e não-rancores). Soube que a primeira decidiu fazer um caderninho, escrever na capa "Para Guardar Rancores" e anotar ali as 'malvadezas' que lhe fizessem para o caso de precisar lembrá-las. É que ficou dito no debate que é bom, às vezes, lembrar desses desagrados. Não entendeu muito quando nem porquê, mas vai que de fato seja... E ela ficou de recomendar à outra que fizesse um caderninho e escrevesse na capa "Para Guardar Amores", e para cada anotação de amor ela podia riscar um rancor até, quem sabe, zerar a balança.
O dos rancores já foi feito. Por enquanto segue com as páginas todas em branco e bem guardado numa gaveta. Imagina-se que o que for, porventura, escrito, acabará virando anedota. Ou então ele pode ficar ali, na gaveta, em branco e esquecido. É também um destino provável.

...Ah, essas coisas que se guardam em gavetas nunca visitadas. Pra quê? Guardar rancor acumula mofo, dá ácaro. E como já é de conhecimento geral, eu sou alérgica. Não posso. Recomendações médicas.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Chororô

Aquele dia em que a gente chega em casa dando um reino por um banho, cama e pés pra cima e...cadê as chaves? Minha expectativa era de passar pelo menos duas horas pro lado de fora esperando alguém chegar. Juro que deu vontade de chorar.
Mas aí descobri que no hall do prédio tem um banco de balanço. Não é um banco que balança, nem é bem um banco, é tipo uma namoradeira, assim, acolchoadinha, gostosa, e que balança.
Me estiquei ali, peguei um livro na bolsa pra ler e pronto. Estava apta a sobreviver às próximas duas horas. Queria escrever um bilhetinho e colocar por baixo da porta da síndica pra agradecer. Tava tudo bem ali, sério. Deu até vontade de chorar de novo.
Opa, péra lá, chorar de novo? Como assim? Pois é. Foi quando me dei conta - pra fora de casa, suja, cansada, pernas esticadas no banco que balança do hall do prédio - que eu ando muito chorona, muito!
Guardei o livro, a síndica apareceu, eu ofereci o maior sorriso que eu tinha, ela riu sem jeito e apressou o passo, o que acho compreensível.
E aí decidi passar a próxima hora fazendo um pequeno dossiê dessa minha fase “faca de cebola”. Comecei a listar as coisas que ultimamente muito emocionaram esta banana que vos fala. Acontece que a lista ficou meio compriiiiiida, e achei melhor me ater a falar só de 05 chororôs. Deixo os demais anotados no caderninho mesmo.  

Dureza. No filme "Como esquecer?", a personagem Julia (Ana Paula Arósio) pede ao amigo que a amarre numa cadeira. E passa o dia inteiro ali. Amarrada. Sozinha. Em silêncio. Não consigo falar muito sobre a cena. Imagino que ela cause as mais diversas impressões. Eu vi ali tanta coisa. Uma dureza enorme consigo mesma. Uma covardia corajosa (ou uma coragem covarde?) para lidar com a dor da perda. E, por outro viés, uma lealdade e confiança tão bonita de ver entre amigos. Dessas que torna possível entregar na mão do outro e sem questionamentos o seu próprio absurdo e, tudo bem. Eu chorei pelos dois. Por quem é duro consigo mesmo e por quem está ao seu lado e não pode fazer outra coisa a não ser estar ao lado.



Ternura. Exposição "Mínimo, Múltiplo e Incomum", da Keyla Sobral. Já faz meses que vi, mas basta apertar o botão da lembrança e tudo me vem. Não consegui chegar ao final da primeira parede de desenhos sem chorar. Cada um tocava num pedaço de memória e explodia um mundo feito campo minado. Mas em silêncio. Tudo é afeto. Tanta ternura. Daquelas que conversa com o pequenino dentro da gente, sabe. Dava até vergonha de estar assim tão tocada no meio das outras gentes. Mas estou certa que levantasse a vista, constataria que  as gentes todas  estariam tocadas também. Não olhei. Não quis mesmo importunar o  diálogo silencioso que podia estar se travando com o terno de cada um.

Inocência. A Culpa é do Fidel. Aluguei o filme pela capa e pelo título. Acertei. Bom de ver. Fotografia bonita, drama e humor sutis. Aí tem essa garotinha que se chama Anna e fica muito confusa com a mudança repentina dos seus abastados pais que se transformam em "barbudos, vermelhos, comunistas", tudo culpa do Fidel! Mesmo que o filme se passe na França e que o comunismo do pai da menina tenha origens chilenas. La faute à Fidel! E a menina é de uma rabugice encantadora. Tem uma cena na escola de Anna em que ela confunde ser solidária com seguir a maioria. E fica muito aborrecida porque seus pais ensinaram errado. Como saber quando é um e quando é outro? Eu chorei quando ela entendeu. E é muito bonito ver o caminho que Anna percorre até passar a pensar por ela mesma. Porque solidariedade não se aprende assim mesmo, se forma.

Sermão. Não sou dada a padres. Não é nada pessoal, mas não sou. Acontece que ouvi um sermão iluminado no casamento de uma amiga amada que, sério, chorei a celebração inteira. Falei pra ela. Aquele padre foi um divisor de águas. Sou uma antes e outra depois daquele sermão. Ele falava sobre o fato de todos nós sermos luz e sombra. E que quando a gente casa, casa com a luz e com a sombra do outro. Vai no pacote. Não leva um se o outro não for. E eu, maquiagem borrada, já incrementava em pensamento o sermão do padre. Claro que há dias em que acordamos sombra e o outro acorda luz. E o contrário também - como não havia de ser? E é claro que isso tudo deve ser mesmo muito difícil. Mas imagina quanta coisa boa a gente pode viver nessa penumbra!


Lariri. Chorei no primeiro "Lariri..." da música nova do Chico cantada pelo próprio e pela Thais Gulin. E não é porque é do Chico. Se bem que temos todos que convir o qüão difícil deve ser conseguir continuar sendo "o" Chico Buarque depois de ser "o" Chico Buarque há tanto tempo! Ele é incrível. O Chico Namorando Buarque. Acontece que ele letrou com maestria aquela nossa burrice/cegueira/autoenganação de quando estamos abestalhadamente apaixonados. "Ah se eu soubesse..."? Que nada! Ainda que soubéssemos faríamos tudo igualzinho! O Chico canta cinicamente a nossa mentirinha de amor. "Casava com outro se fosse capaz...". Mentira! "Ah, se eu pudesse não caía na tua conversa mole outra vez...". Mentira! "Fugia nos braços de um outro rapaz....". Mentira deslavada! "Mas acontece que eu sorri para ti...e aí...larari, larara, lariri, lariri..." E toda a verdade mora nesse lariri. O Chico Sabido Buarque.

terça-feira, 10 de maio de 2011

"Amor, sonhe com os anjos. Não se paga pra sonhar."

Tenho uma relação super estranha/especial com meus sonhos. Sonho pra caramba, lembro de tudo com detalhes - cheiro, gosto, diálogos - e isso seria ótimo e muito divertido se eu não confundisse tudo com a realidade. Misturo vida sonhada com vida vivida e até entender que alhos não são bugalhos faço a maior confusão!
Certa vez sonhei que terminava com um namorado. Não teve o que me fizesse atender os telefonemas dele durante um dia inteiro. Ora, o que ainda tínhamos pra falar? Acabou, tá acabado! Até que, já à noite, eu tentava me lembrar do porquê do fim do namoro e... Ih, era sonho.
Outra vez, sonhei que estava grávida. Acordei, mãos nas cadeiras, analisando minha barriga no espelho e me achando a pior mãe do mundo porque eu tinha bebido umas cervejinhas na noite anterior. "COMO é que eu pude ser tão irresponsável e estar com toda essa ressaca estando grávida?" Me penintenciava enquanto a ficha não caía.
Aí, num outro dia, sonhei que eu namorava dois amigos ao mesmo tempo. Mas não foi assim um sonhinhozinho qualquer. Sonhei a relação inteeeeeira - início, meio e fim! Meses e meses! E mor-ro-de-ver-go-nha até hoje quando encontro um deles, aquele que descobriu tudo (no sonho!). Qualquer dia desses acaba escapolindo um pedido de desculpas.
Teve outro sonho muito legal, eu estava indo de barco (ora era à remo, ora o barco tinha motor) pra África. Nesse dia dormi quase 12 horas seguidas - um recorde inacreditável pra uma pessoa que sofre de insônia - o que faz muito sentido já que a África é mesmo muito longe pra se chegar de barco e eu não podia acordar de jeito nenhum enquanto não lá chegasse. Acordei super cansada, até um pouco bronzeada, e sem entender patavinas o que eu fazia na minha cama, em Belém do Pará, no Brasil, depois de tanto mar.
E poderia seguir aqui com uma lista enorme dos queridos, reais e inusitados sonhos meus. Acho que dava um blog só pra eles. Sim, eu os anoto!
Mas agora vou dizer porque andei pensando nisso tudo, afinal. É que tenho escutado numa estranha frequência meus amigos me contarem que sonharam comigo. Só na última semana, invadi o sonho de uma amiga lá na Itália, dias depois lá estava eu a sassaricar num sonho de um amigo no Rio de Janeiro e, de ontem pra hoje, apareci sem nenhum convite num sonho de outro amigo que dormia muito-bem/muito-obrigado lá em Brasília. Achei, aliás, um roteiro muito racional esse, pois pra vir da Itália pra cá dei uma paradinha no Rio - ou então não seria eu - e nada mais lógico do que fazer uma conexão em Brasília antes de aportar por aqui, não é verdade?
Daí que eu fiz essa piadinha besta porque tomei minha pílula do Bozo diária, mas a verdade é que fiquei meio encafifada com esse sonharéu todo. Será que vai me acontecer alguma coisa muito ruim? Será que vai me acontecer uma coisa muito boa? Será? O que me fez entrar na cabeça dormente de toda essa gente? Onde é que eu estava nos meus sonhos enquanto estava também nos sonhos deles?
Crenças, metafísica e visões Junguianas à parte, acho isso tudo muito engraçado mas de uma forma perturbadora. Engraçado porque eu me divirto um tanto nos meus sonhos e vivo mesmo todos eles. A parte de mim que sonha vive tão intensamente quanto a parte de mim que vive. Engraçado também por conta da confusão que faço que, quando desfeita, me rende boas gargalhadas e histórias pra contar. E no fundo quero continuar assim, sem saber administrar isso direito. Mas é perturbador pelos exatos mesmos motivos que faz ser engraçado. Ainda mais agora que dei pra me divertir (é o que eu suponho, pois nem todos os amigos disseram o que eu fazia na cabeça deles) nos sonhos alheios, mundo à fora!
Como não tenho opinião formada em relação ao tal "fenômeno onírico" (o que não diminui nenhum pouco meu prazer de sonhar), construí uma explicação pragmática para a minha visita insistente às cabeças dos amigos. É que acordada, ando sossegada, gostando de ficar por aqui, meio com preguiça de planejar viagens, curtindo um cafuné nas raízes. Mas essa é a parte de mim acordada. Quem disse que a parte de mim que sonha sossega? Sossega nada! Não foi parar na Itália, essa danada?

A foto é de um tumblr que eu adoro e que
super se encaixa nesse contexto: http://portasonhos.tumblr.com/


sábado, 7 de maio de 2011

Das coisas que não cabem

Sobre ser mãe: Tem Maria, tem Maíra e tem Marina. O ano é 1985. E o amor não cabe. Sobra, sobra, sobra.