quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um e Outro

Não é conversar. É conviver.
Não há o que conversar porque não há o que resolver.
Se o que Um quer é ficar com o Outro e o que o Outro quer é correr do Um, nem a mais longa das conversas do mundo convergiria esses quereres.
A não ser que aquele Outro passasse a querer o Um... Coisa que nem Um nem Outro vislumbram no momento.
A não ser que aquele Um passasse a correr atrás do Outro... O que o Um não faria agora por ser uma grande d´uma deslealdade consigo.
É por isso que não é conversar. É conviver.
Conviver. Porque se chegar o dia em que o Outro pare de correr do Um...
Conviver. Porque se chegar o dia em que o Um possa se concentrar no Outro sem que a si se comprometa tanto...
Conviver. Porque se algum dia um desses dias chegar, e ainda houver toda essa benquerência que hoje há, que ambos ainda estejam ao alcance Um do Outro.

Conviver. Converter. Convergir. Esses verbos todos aí.
"Perderam-se" não é uma boa conjugação.
Para qualquer dos finais em que Um e Outro ainda sejam personagens da mesma história.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Viajo porque amo. Volto porque preciso.

"Acordei no meio da noite suando em bicas, tive um sonho que tava numa sala de cirurgia, aí vinha uma mulher vestida de médica e raspava meu cabelo todinho e eu ficava careca, depois vinha outro médico e me perguntava se minhas dores de cabeça eram constantes, eu dizia que sim, ele perguntava em que região da cabeça, e eu apontava com o dedo no lugar. Aí ele abriu minha cabeça com um bisturi, e saia pedacinhos do teu corpo de dentro da minha cabeça. Porra era tudo tão real, que eu acordei em pânico. Tentei deitar novamente mas não consegui. Sinto amores e ódios por você. Sinto amores e ódios repentinos por você" (Do filme, "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te amo")

Quero assistir a esse filme agora, de novo.
Quero ter o texto inteiro dele aqui comigo.
E quero, obviamente, uma vida-lazer!

Mas eu, eu viajo porque amo e só volto mesmo porque é preciso.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mejillas

A Argentina dá bochechas.
Isso em relação aos visitantes. Sim, porque ao meu redor todos permaneciam esbeltos.
Melhor dizendo: a Argentina ME dá bochechas. Não é um fenômeno geral. É pessoal e instransferível. Como o passaporte que eu não tenho - o que aburriu o moço da imigração para o Uruguay - mas que em breve eu terei para dar boa sorte.
Mas o que eu queria mesmo era falar de bochechas. Das minhas. Rellenas de dulce de leche. Das bochechas que em castellano tem um nomezinho tão simpático que é capaz de eu me acostumar con ellas...
" - Señor, yo me quedo con esas mejillas."

O Inverno e Buenos Aires

Plaza San Martin. Buenos Aires - Argentina

Ah, o Inverno... este senhor charmoso...
Tem cabelos lisos que espanam o rosto e se alvoroçam com o vento.
Os olhos estão sempre semi cerrados (um charme!) pela mesma razão, o vento.
As vestes são gris. O sorriso é pequeno.
E os passos ligeiros. Fugindo do vento.

Buenos Aires, em si, é outra coisa.
Buenos Aires é um sedutor um tanto cafajeste.
Tem cabelos desgrenguenhados e a barba perfeitamente mal feita.
Um moço daquele tipo que rebuliça a vida. Que anula o juízo.
É fuerza bruta. É amores perros.
É baixo. Baixo no sentido de aplicar golpes. De passar notas falsas. De te furtar as roupas.
E apesar de tudo isso, um moço inesquecivelmente apaixonante.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Surya Namaskar

Que o Sol tenha aceitado as nossas boas intenções em saudá-lo.


E que a boa energia ali acumulada perdure, "se expanda e suspenda esse instante..."

sábado, 22 de maio de 2010

Para todas as Marias

Há muitas Marias para cada João.
E até há alguns Joões para algumas Marias.
Digo algumas porque Marias - ainda que à procura de um João para si - sempre sobrarão, por serem tantas.
São muitas as Marias. Ah, são. Ou seria uma impressão?
Mas acontece que entre tantas Marias, e acontece que entre tantos Joões;
haverá aquela Maria e haverá aquele João,
que caminham a um: número ímpar e singular.
Por propósito ou por distração, não estão a se procurar.
Um João e uma Maria que não formam par.

- É claro que não deverão, essa Maria e esse João, ignorar uma trombada que, porventura, possam dar, um no outro, por aí.

A ligação que eu gostaria de fazer hoje

Fosse possível, hoje eu faria um interurbano pra Ana Amélia, contaria uma fofoca ótima e morreria de rir dos comentários dela.

Cara, tu estás assistindo essa nova novela das 8?
Lembra daquela ultima vez que te visitei em São Paulo?
É, em 2007! E aí tu me levaste pro Satyrianas, te embuletaste com aquele espanhol lindo-maravilhoso-olhos-azuis e me abandonaste (muito bem acompanhada) com tuas amigas atrizes e loucas, lembra?
Pois então. Teve aquele carinha que conheci, achei lindo, bati papo horrores, achei que ele era totalmente meu número, cabelos ruivos e sedosos, divertido e coisa e tal.
Esse mesmo!
Lembra que fiquei toda animada, contei piada, discuti o sexo dos anjos, e até encarei uma fila enorme pra assistir uma peça com uma ex-Malhação que faria sexo com o respectivo namorado, só porque eram amigos dele?
Hahahahahaha. Lembra?
E lembra que quando eu já estava super feliz com a ideia de ter filhos ruivos ele vira pra mim num suspiro e diz "Ai, tô morrendo de saudades do meu namorado que está viajando..." e eu esculhambei porque ele deveria ter me avisado que era gay há pelo menos 3 horas?
Pois então.
Ligo na Globo, novela das 8, e lá está o guri.
Acreditas?

E morro de rir só de imaginar os comentários que viriam do outro lado da linha.
Thanks, Ana. Pelas histórias esdruxulas e pelo humor que transcende e me faz gargalhar até com piadas que não tiveram tempo de acontecer.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

TIrinhas Carnavalescas

As TIrinhas devem ser lidas com sotaque. InDIspensável a caixa alta para acentuar todos os "Tês" e "Dês". É como deve ser em bom pérnambuquês!

1 - Alceu Valença, Lenine e DJ Dolores são onipresentes. PraTIcamenTE a SanTÍssima TrindaDE.

2 - Aquele guarda-chuva coloridinho de frevo não é mero adereço carnavalesco. Ele é a única sombra-amiga-companheira possível duranTE várias horas. Bloqueador solar pra acompanhar, não custa.

3 - Quem é que pode dizer que já levou uma bofetada de um Boneco de Olinda? Não, não é pra qualquer um. E DIgo mais: vai ter mão pesada assim lá na Ladeira da MisericórDIa!

4 - Atenção! Ali pelo Largo de São Bento, quarteirão da Prefeitura de Olinda existe um buraco negro, um Triângulo das Bermudas, uma Ilha de Lost, ou qualquer coisa do gênero. Não marque encontros por ali, vai por mim!

5 - ExisTE um botão coleTIvo que é, de alguma forma, acionado todas as vezes que toca a Vassourinha e faz as pessoas pularem. Não importa quantas vezes ao DIa toque, não importa há quantas horas você está em pé. Vassourinha+Botão= Pulos.

6 - Conselhos de pernambucanos devem ser levados a sério: "Moço, como eu chego no supermercado?". Play no sotaque: "Ólhi, minha filha, você tá vendo esse caminho aqui? Pois siga. Pegue seu DÉsTIno e vá. Mar-num-saia-do-seu-DÉsTIno por nada nesse mundo, que você chega lá!". Imagina se ao invés do caminho do supermercado fosse perguntado o caminho a seguir na vida!

7- Ouvir a galera gritar em bom pérnambuquês pela Gabi Amaranto, no Rec Beat, não tem preço. Hahahahah. "DIva, DIva, DIva...". Quem precisa da Beyoncé?

8 - O Galo da Madrugada é uma experiência antropológica. PrincipalmenTE se você está no camarote do PCdoB localizado em um Motel. É!

9 - Paira no ar, o tempo todo, um conviTE irrÉsisTÍvel ao entorPÉcimento. Fato.

10 - Ir a uma balada chamada "Que Putz, Sem Loção" e se deparar com um cartaz na portaria com os DIzeres "Proibida a entrada de Débora Secco" é o tipo de coisa que só o Recife faz por você.

11 - É de uma generosidade sem tamanho dos deuses do Carnaval permitir que uma alérgica à cerveja beba intensamente por 3 dias sem qualquer reação (Skol a R$1,00!!!). Passei ao Ice nos últimos dias sem birra.

12 - Por mais fundo que se cave o prato de macaxeira da Casa de Noca, ela não acaba nunca!

13 - Desfaz-se o mito: é possível dançar frevo! Desde que em slow motion.

Obs: a lista de TIrinhas poderá crescer conforme a memória se restabelecer.

Que se chamava Carnaval, Carnaval, Carnaval...

Hino do Elefante de Olinda*

Ao som dos clarins de momo
O povo aclama com todo andor
O elefante exaltando as suas tradições
E também seu esplendor

Olinda, este meu canto
Foi inspirado em teu louvor
entre confetes, serpentinas, venho te oferecer
Com alegria o meu amor

Olinda, quero cantar
À ti, esta canção
Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar
Faz vibrar meu coração
De amor a sonhar, minha Olinda sem igual

Salve o teu carnaval

*a ideia era substituir a musica por um post digno do Carnaval. Mas a música é hino, e fica. Outro post virá! :-)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Up in the air

Eu poderia escrever zilhões de coisas sobre "Up in the air". Até evitei o bate-papo pós cinema porque acho que só pararia de falar com a chegada da corriqueira rouquidão.

Como adepta e entusiasta da filosofia "viajar é preciso" a identificação com a história é automática e o contexto em que se passa a trama me é muito familiar.

O fato é que há um monte do Ryan (personagem do George Clooney) nessa nossa geração cool de desapegados, descompromissados, sempre "em frente e avante" para abraçar o mundo inteiro sem na verdade abraçar ninguém.

Visto a carapuça e digo, sem pestanejar: aceitaria AGORA uma vida que significasse viajar, viajar e viajar. Conhecer gente, lugares, culturas, sem passagem de volta, sem data de retorno. Tranquilo. Vamo lá. Saudade administra-se.

Mas o quanto há de verdade nesse desapego?

Daí volta-se ao filme. "Up in the air" retrata a solidão do tal homem moderno, para quem a ausência de raízes e ligações pessoais não é um problema, mas uma maneira de viver a vida. O personagem não finca os pés, passa mais tempo em deslocamentos aéreos do que em terra. Tem mais afinidades com aeromoças e comissários de bordo do que com família e amigos. Fica mais à vontade com os procedimentos de embarque e desembarque do que em uma reunião familiar.

Claro que há muita caricatura em tudo isso, mas é possível levar uns bons tapas na cara.

Por que tanto medo de "estacionar"? Viajamos pra ir ao outro lugar ou para fugir de onde estamos? Ou porque não achamos o que procuramos? Ou porque, simplesmente, nem descobrimos o quê procurar?? Daí inventamos uma justificativa qualquer (no filme, a meta do personagem é voar 10 milhões de milhas) para dar algum sentido a essa ansia de não parar.

A cena final é perfeita em retratar essa confusão. Ryan tem, em milhagens, a possibilidade de voar para onde quiser. Poderia dar diversas voltas ao mundo. Mas termina imóvel frente a um enorme painel de embarques com incontáveis destinos a lhe piscar, sem saber pra onde ir. Qual destino, afinal, faz sentido quando não há pelo que ficar ou pelo que voltar?

Não, a vida NÃO cabe em uma mochila. E as relações pessoais são um peso IMPRESCINDÍVEL de se carregar. Necessitamos SIM dos laços para (bem) viver, ainda que estejamos nos moldando às novas formas de atá-los.

BAUMAN que me perdoe, mas, no final das contas, a vida, a modernidade, as relações, não são tão líquidas assim...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A gente sabe, só não lembra na hora

Aí a gente sai despejando aqueles conselhos que ninguém mais aguenta ouvir, do tipo "ocupe a cabeça", "dê tempo ao tempo", "preencha os espaços com outros conteúdos" e coisa e tal. Logo em seguifa a frase feita: "uma hora passa!"

Mas, sério, é sempre tudo isso mesmo e não outra coisa. É esse o script. Tudo um grande clichê. Somos personagens repetitivos, como nas novelas do Manoel Carlos, sem o Leblon.

A nossa sorte é que, para além das previsíveis cenas dos próximos capítulos, percebemos que, sim (!), somos co-autores dessa bagunça.

E sem ensaio, sem cortes e sem saber como vai ser o final, escolhemos um caminho pra seguir no dia seguinte e em todos os outros também. Escolhemos um caminho pra seguir e outros tantos caminhos para desviar. Porque escolher significa também (des)escolher! E desviar também pode ser um caminho. E no fim das contas nem tem certo e errado. O que tem, é o que tem.

E a gente bem sabe de tudo isso, só não lembra na hora. Acontece que, na hora, sabemos ao mesmo tempo de muitas outras coisas e não dá tempo de organizar todos os saberes. Saber demais e saber de menos, cada qual traz o seu cada qual.

Aí chega o clímax, o tão esperado momento, em slowmotion, em que percebemos que aqueles conselhos de sempre, as frases feitas, as piadas prontas, são das coisas mais bonitas desse mundo, o que no fundo, naquela desorganização de saberes, já sabíamos. Só demoramos a lembrar – o que não importa nenhum pouco, porque demorar já não tem a menor importância quando tudo fica leve.

Aliás, logo percebemos que ser leve também é das coisas mais bonitas desse mundo! Ser leve fala palavrão porque não há palavra ou palavrinha que exprima tão bem.

Ser leve tem braços pra cima, usa vestido. Ser leve tem cabelos soltos e o vestido, aquele que usa, é rodado e colorido.

E começamos a antever que o episódio já se aproxima do fim, e dá medo, dor de barriga, a maior ziquizira – tudo muito normal quando se está liberado para fazer qualquer coisa que quiser.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pra começo de conversa...


O ano começou assim.
E o Universo está a meu favor.
É isso.

* foto de Luena-Zi