terça-feira, 22 de setembro de 2009

Castiga-me infinitamente


Passava o trailer do filme Budapeste. Mal olhava a TV. Mas quando ouvi a frase - sem sequer atentar para o contexo - formou-se um novelo de lã ali pela garganta seguido de um "glub" seco e um inevitável palavrão. Ela dizia pra ele: "Castiga-me infinitamente".
Caramba! "Castiga-me infinitamente" é algo que nunca, NUNCA mais vai sair da minha cabeça. Tem um quê de culpa e vários quês de cinismo. Tem dor e tem gozo. É entrega absoluta e despudorada. E eu quero. Ah, quero!
"Castiga-me infinitamente" vai ecoar pra sempre por aqui. Em portugês, por óbvio. A personagem de Budapeste faz o pedido em húngaro: magiar végtelenül büntess meg, mas isso são outros quinhentos que eu deixo pro Chico explicar:

“Naquele dia entrei em sua casa com o propósito de acertar as contas e dar por encerrado aquele curso de merda. Mas antes de partir faria um pronunciamento em língua portuguesa, num português brasileiro e muito chulo, com palavras oxítonas terminadas em ão, e com nomes de árvores indígenas e pratos africanos que a apavorassem, uma linguagem que reduzisse seu húngaro a zero. Deixei de fazê-lo devido ao visível arrependimento de Kriska, que só não me pediu perdão porque inexiste tal palavra em húngaro, ou melhor, existe mas ela se abstém de usá-la, por considerar um galicismo. Como forma coloquial de se expiar uma culpa, existe a expressão magiar végtelenül büntess meg, isto é, castiga-me infinitamente, numa tradução imperfeita. Foi o que ela me disse, sabendo que eu compreenderia não as palavras, mas o sincero sentimento posto nelas. Afagou-me o rosto com a ponta dos dedos, fechou os olhos e sussurrou végtelenül büntess meg, mantendo em seguida os lábios abertos, e no meu entendimento ela pedia para eu lhe beijar a boca.”
(Budapeste, de Zsoze Kósta)

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