terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Enxergar é preciso

Minha irmã, há uns 7 anos, descobriu que era míope. Não uma miopia assim dessas que se descobre porque deu uma dorzinha de cabeça ou porque se teve que apertar os olhos por mais de hora para ler a legenda no cinema. Ela descobriu, aos 18 anos, que tinha 5 graus de miopia. 5 graus! Ou seja, não sabia que não enxergava porque lhe faltava o parâmetro, né? Até os 18 anos, enxergar era aquilo... meio embaçado, meio borrado, meio sem contornos. Lembro do oftalmologista, preocupado, perguntando se ela tinha namorado porque... né... depois dos óculos, tudo poderia mudar.
A ideia não é expor a miopia tardiamente diagnosticada da minha irmã, até porque ela nem curte que eu propague essa história por aí (mal sabe que já perdi a conta de quantas vezes contei...).
A ideia é explicar essa sensação de, de repente, pôr óculos e passar a ver nitidamente o que sempre esteve ali na tua frente, todos vendo, todos te descrevendo, mas por conta de uma miopia emocional momentânea, não se enxergava muito bem. Até que um dia, naturalmente, a vida lhe põe os óculos.
E aí a coisa vai desembaçando, vai ganhando contornos - num processo bem mais lento do que a correção da visão da minha irmã, é claro - mas uma hora vai deixar de ser borrão por completo e, como se fossem novos, os olhos tudo verão!
A minha miopia não é nada que me classifique como PNE, ainda que me cause alguns transtornoszinhos por não ter muita afinidade com lentes de contato. Mas o fato é que fui vítima daquela outra. Daquela miopia, daquele astigmatismo, daquela hipermetropia, e, porque não, daquela catarata emocional. É! Não via. Nem de longe, nem de perto. Nem de binóculos, nem de lupa.
Por sorte ou por mérito, não importa, meu diagnóstico deu-se a tempo. Pus os óculos! Já começo a enxergar melhor. Tô no processo. Aquele lento e coisa e tal. Mas tô!
E pra dar uma forcinha no sucesso da recuperação, quem sabe uma acelerada porque enxergar é preciso (!), comprei óculos novos bem grandes. Vai que...né?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Onze meses depois...

Dentre tantas coisas fantásticas e com sotaque que aconteceram no Carnaval do ano passado (Recife/Olinda-PE) teve uma que me deixou encafifada (desassossegada, em bom pernambuquês) esse tempo todo: Na porta de entrada da Festa "Sem Loção", um aviso em papel A4 feito às pressas (como se não houvesse muito tempo para impedir a tragédia) impresso em negrito, sublinhado e capslock com a frase "PROIBIDA A ENTRADA DE DEBORA SECCO".
Foram meses de elocubrações até aceitar que nem sempre saberemos os porquês das coisas - assim é a vida, meus senhores - e, enfim, me rendi ao riso pelo riso.
Por sorte e para a minha boa saúde, a curiosidade que há tanto vem matando o gato, nunca me matou. Ri. Na verdade, morri de rir. Fotografei. Espalhei a história. E deixei rolar...


[Corta a trilha sonora do frevo e do maracatu]
CENA: RIO DE JANEIRO. GERAIS. EXTERNAS. DIA/NOITE
Entra a trilha sonora do samba. Planos de paisagens do RJ. Anoitece na praia. O calçadão se ilumina. Corta para o Bairro de Botafogo. Bar lotado.
LEGENDA: Onze meses depois...
CENA: BOTECO SALVAÇÃO. INTERIOR. NOITE.
Mesa de bar. Noite festiva, animada. Maíra, Renata, Mari e Lelê comemoram o aniversário de Danielle. Todas bebem, felizes. (E o que mais a direção imaginar)

E aí que às vesperas do aniversário de 01 ano da visão daquele aviso encafifante, Lelê, pernambucana, comunica às demais personagens que terá no Rio de Janeiro uma festa muito boa de Recife chamada "Sem Loção". Dou um pulo na cadeira! (Insertar um mini-flashback). Digo que fui àquela festa. Lá mesmo, em Recife. Isso! No Carnaval do ano passado. Lelê ri cinicamente, aquele riso de quem sabe das coisas: "Então, você foi na festa da Debora Secco?"

E finalmente eu soube.

Debora Secco estava na cidade para gravar um comercial qualquer (ou algo do tipo, isso não é importante para a trama) e soube que aconteceria a festa. Hype, descolada e alternativa, teria anunciado que pretendia por lá aparecer - o que foi publicado em alguma coluna, ou revista, ou espalhou-se mesmo no boca-a-boca de sotaques de "tês" e "dês" tão queridamente pronunciados. Os organizadores da "Sem Loção", preocupadíssimos com a boa reputação da festa, teriam tratado de tomar a urgente providência. E foi assim que afixou-se na porta de entrada o fantásTico aviso: PROIBIDA A ENTRADA DE DEBORA SECCO.

Se ela foi? Jamais saberemos...
Se ela soube? Tomara. Porque a história é tão boa, tão boa, que merece ser levada na esportiva.
Eu, livre da ignorância, quase um ano depois, ri tudo de novo!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Na praia com Helena

Helena tentava ler o nome do ator de uma peça num cartaz que estava do outro lado da estação do metrô. Perguntou se eu tinha vista boa. Não tenho. E foi mesmo só a introdução da conversa porque foi a própria Helena quem conseguiu ler.
Bonita, longilínea, cabelos brancos cacheados (e cheios de viço!), sorriso largo, olhos de mar e sotaque paulista.
Quem levou Helena pro Rio foi seu 4º marido, e fez muito bem, pois a praia de Ipanema era a praia dela. Helena nadava "muito pra lá da arrebentação" quase todos os dias, e me mostrava o braço torneado para comprovar. Nem era preciso.
Aliás, ela estava morrendo de saudade de sua praia. É que há um ano, Helena teve um aneurisma cerebral, ficou 60 dias em coma - "Quase vou mesmo, coração parou e tudo!", ela me dizia - e agora teve que ir morar com o filho em Copacabana e nem pode fazer seus exercícios diários enquanto o fisioterapeuta não liberar. Ela já disse a ele, aos filhos, a todos, que está se sentindo ótima - o que de fato aparenta - mas prometeu não teimar.
O 1º marido de Helena era paraense. "É que vieram tantos depois desse" que ela não pôde identificar meu sotaque. Tão logo soube da minha procedência, quis pronunciar todas as palavras aprendidas: cupuaçu, jambu, Cairu... Foi quando Helena quis me acrescentar à família, me apresentaria o filho mais novo e quem sabe assim teria netinhas de olhos puxados indígenas e da cor dos dela. Encantador o humor de Helena.
E como Helena estava adiantada para a fisioterapia, achou por bem fazer uma horinha comigo na praia, a praia dela. Matou um pouco da saudade e eu não poderia ter melhor companhia. Em 30 ou 40 minutos batemos o maior papo do mundo inteiro, as boas histórias dos meus 28 anos em sotaque paraense e as boas histórias dos 70 dela em sotaque paulista, tudo ali, no sol, na areia e nas esfihas de espinafre do Mustafah em Ipanema.
Até que o relógio interveio na cena e Helena partiu à fisioterapia. Desejei ligeireza na recuperação e disse que fosse com cuidado. Ela me desejou um dia lindo e disse que eu era uma amiga adorável.

Algum tempo depois, um amigo pergunta se eu estive a manhã inteira sozinha na praia. Digo que não. Estive na praia com Helena. Acostumado aos meus gracejos, pergunta: "Sei... A Helena do Manoel Carlos, né? Na praia do Leblon?". Não, amigo, a minha Helena é de Ipanema e de Manoel Carlos não tem nada. Está muito mais pra Silvio de Abreu, Carlos Lombardi ou Gilberto Braga.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Pérolas de Reveillon

Porque eu sou uma mandingueira muito displicente...
Acabo de descobrir que, na noite do reveillon, deveria comer 12 uvas, fazer 12 pedidos e guardar os caroços na carteira. Acontece que comi só 7, morrendo de rir e desconcentrada, e não tinha caroço nenhum porque eram uvas Thompson.
Será que garanto ao menos o 1º semestre?
Por que se os deuses da mandinga aceitarem esse pequeno ajuste, é só esperar chegar agosto (aniversário também é ano novo, não é?) eu como as outras 5 e fica tudo certo!

Comidas as uvas e fingidos os caroços, fui à praia pular as 7 ondinhas. Dessa vez o número estava correto (né?).
Acontece que a praia era de rio e o vento não foi convidado pro reveillon. E aí que formava uma ondinha de nada em intervalos de tempo tão grandes que quase chega 2012 e eu lá, pulando as ondas, enquanto o mundo acaba.

Acho que nem é o caso de lembrar que o arroz de lentilha desandou e virou sopa. Também não vale a pena citar o otimismo de aceitar o que nos vêm e "tomar" a lentilha numa boa, como se sopa fosse. O que só não aconteceu porque na hora de esquentar o panelão fomos jogar video-game e a "sopa" queimou.

Mas ó, os banhos, tomei todos!
E não tem Uva Thompson, lentilha queimada ou praia de rio sem vento que me embargue!
Banho de descarrego, Quebra Feitiço, Vence Demanda, Chama Dinheiro, Chora aos Meus Pés, Comigo Ninguém Pode, Atrativo do Amor etc. Alguma coisa tem que funcionar, hein!

Destaque para os ingredientes do Atrativo do Amor: Agarradinho, Carrapatinho, Chega-te a Mim, Chora aos Meus Pés, Busca Longe, Corre Atrás, Vai e Volta, e Atrativo da Perseguida (Bôta).

Abraços.

E Feliz 2011. Porque ano ímpar é mais legal.

Certo.