quinta-feira, 12 de junho de 2008

Gabo para o Dia dos Namorados!

"Na distância anónima avistaram-se.
A rua vazia abriu-se para que dois estranhos trocassem o olhar. Entre eles havia o espaço de uma vida.
Entre eles ficara a saudade e a promessa de um beijo.
Fixados um no outro. Sem palavras. Atravessaram a multidão informe de corpos semi-quentes.
Sem porquê não se anularam.
Num pestanejar breve entre sístoles e diástoles finalmente caminharam juntos.
Que importava a dobra do universo?
As voltas cansadas da fita de Möebius?
Afinal não havia saída. Pertenciam-se.
Eram um para o outro tudo o que fazia sentido."
(O Amor nos Tempos do Cólera, Gabriel Garcia Marquez).
Presentão do dia dos namorados que me dou pela segunda vez.
Juro que dessa vez não empresto pra ninguém!
Egoísticamente meu!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Bateu saudade, diletos...

Há um ano atrás eu me descabelava, mochila nas costas, rumo ao Rio de Janeiro.

Roendo as unhas, olhos marejados, ingressos há um mês comprados, atônita, para assistir ao show de despedida dos diletos do meu coração na Fundição Progresso.

Era eu uma das 15 mil pessoas que lá apareceram para deixar bem claro, caso eles não tivessem entendido, que não queria-se aquele adeus, que não engoliria-se fácil aquele papo de "recesso por tempo indeterminado". Mais explicado impossível, pois mesmo em caso de vista grossa, gritou-se muito, mas muito alto, pra ninguém dizer que não ouviu.

Não, não adiantava a voz mansa do Camelo, solenemente vestido para uma festa de despedida, a dizer que todo carnaval tem seu fim. E nem mesmo o Amarante fazer as dançinhas mais bonitinhas do mundo.

O show foi tão tudo, que à época sequer me atrevi a (d)escrever. Não dá. Só pra quem tava lá!

Ainda bem que aquilo tudo se passou no Rio, porque só mesmo o Rio pra possibilitar a catarse. Saí da Lapa e nem sofri. Era o Rio, foi proposital, com certeza!

E a despedida hoje faz aniversário. E a saudade bate na porta. Alguém responde?

Esperança, a última que morre. E no fim das contas, nem morre!



EM HIATO HÁ UM ANO, LOS HERMANOS DÃO PISTAS DE QUE PODEM VOLTAR

Cantor e compositor Marcelo Camelo prepara primeiro disco solo para agosto/setembro.Integrantes não descartam retorno, mas ainda fazem mistério em torno do assunto.
Lígia Nogueira Do G1, em São Paulo

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quarta-feira, 4 de junho de 2008

"Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há, mas eis que chega a roda viva e carrega a roseira pra lá..."

"Tu + Eu = dominar o mundo em breve."

Foi o último recado que a Ana Amélia deixou no meu orkut.

A gente não tinha muita noção de como íamos fazer isso, mas eu confiava nela e sabia que ia dar um jeito. Nosso ponto de partida nesse WAR que eu ansiava era a América Latina, em dezembro, quando eu ia segurar a mão dela no show da Tia Madonna em Buenos Aires.

Nossas mães, comadres que só elas, contavam histórias de viagens que fizeram na juventude, e nós, com nossa fértil imaginação sobre as histórias impublicáveis das comadres, queríamos repetir o feito e, porque não, ir além!

A Ana dizia que a gente ia "encriquilhar" juntas, assim como elas (com todo respeito às nossas senhoras!) e que isso ia ser muito legal. E como poderia não ser??

Falei pra ela que ia fazer um contrato pra gente assinar. "Que contrato que nada, Maíra. Cospe aí na tua mão, eu cuspo aqui na minha, a gente finge que aperta as mãos e pronto." Eu adorei a idéia e topei na hora.

Mas Ana Amélia me pregou uma peça e foi embora... Nós não encriquilharemos (mas eu levarei esse verbo comigo pra sempre!) juntas e esse mundo já nem é tão atraente assim pra se querer dominá-lo.

Ela tem muita sorte de ser tão adorável que eu prometo me chatear só um pouquinho de levar o jogo sozinha. E me arrepender só um pouquinho por deixar pra semana que vem o post que nós escreveríamos juntas. E prometo também ficar só um pouquinho triste por ter tido uns 20 anos pra aproveitar a Ana e sentir que só aproveitei mesmo, daquele jeito que de se lambuzar, apenas 1.

Desse ano:

guardo a mágica daquele momento que nos fez estreitar os laços e apertá-lo como se fosse nó;

guardo a surpresa da Ana com a minha palavra de levá-la pra passear assim que chegasse em Belém;

guardo a grata descoberta das afinidades;

guardo os apelidos de cada dia e as infindáveis tentativas de criar um jeito só dela de rir no msn;

guardo as consultas amorosas, profissionais, musicais, literárias e metafísicas que fazíamos uma à outra;

guardo os trezentos percursos Ipanema-Copacabana/Copacabana-Ipanema que fiz ela fazer esbaforida, blasfemando e pedindo pelo frio e pela poluição de SP;

guardo todos os recados que eu mandei ela dar ao Amarante nos shows da Orquestra que ela foi e eu não fui;

guardo a maratona de teatro no Satyrianas que começou às 8 da noite e foi até às 6 da manhã;
guardo o humor dos meus sonhos;
guardo meu Círio em São Paulo com pastel de feira e caldo de cana;

guardo o título de ser sua talismã para conseguir homens bonitos;

guardo o sorriso mais gigante desse mundo;

guardo o Reveillon que eu passei sem enxegar porque a Ana Amélia perdeu as minhas lentes;

guardo as caretas mais fotogências que se pode imaginar;

guardo os litros de cafeína engolidos na Avenida Paulista;

e guardo tantas, mas tantas outras coisas que começo a repensar se foi só mesmo aquele cadinho de tempo que eu aproveitei a Ana Amélia.

A nossa sorte - nós que ficamos para jogar esse jogo sem a Ana - é que ela era mesmo muito intensa e espalhou nesses 28 anos um bocado dessas historinhas ímpares entre os sortudos que a tiveram por perto. E nada disso vai diminuir a nossa saudade, quanto a isso nem ouso eufemismos.

Fico com a lição da Ana que me mostrou, na letra do nosso querido padastro, que outro caminho não há, pois eis que chega a Roda Viva e...


Roda Viva (Chico Buarque)
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...