quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Juventude

Vinha descabelada, sisuda, vencida, caminhando de volta do trabalho pra casa. O descabelo e o vencimento porque jamais consegui perdurar a arrumação por todo o horário comercial. Meio dia tudo já começa a desgringolar. Seis da tarde, vixi maria! O siso, porque uso da técnica mesmo pra andar na rua quando só, apressada, ou quando ermo, ou quando sem óculos, enfim. Evita algumas interpelações pessoais.
Pois andava desse jeito aí, quando um moço de bicicleta diminui a velocidade, tira o fone dos ouvidos e acha por bem se comunicar. Pela pose e pelo sorriso enlarguecido, se vê que se acha bem bonito o moço:
- Oi, tudo bem?
(escolho a cara mais franzida, o bico mais montado, a voz mais grave, o tom mais seco e...)
- Tudo bem sim, por quê?
- Não, por nada! É que queria te conhecer, posso?
- Olha...Não. Não pode.
- Mas porque? Tu és comprometida?
- Sou comprometida com meu bom senso. Mas já que a gente tá conversando, me conta. Tu já conseguiste alguma coisa abordando alguém assim?
(insira aqui um peito tufado, uma cara de orgulho e um sorriso pra rasgar de enlarguecido)
O moço e a sua bicicleta atravessaram a rua. Pude ver quando ele abordou umas garotas do outro lado que se derreteram em risadinhas. Eu, do lado daqui, ri. Ele me olhou e enviou uma piscadela. Eu retribuí com um joinha incentivador.
Ah, a juventude...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Torcidas

Quero falar sobre torcida. Mas não daquela torcida das multidões, das camisas, dos gritos de guerra, das paixões. Quero falar de outra torcida. De outro tipo.
Olha, tem pouca coisa que seja mais verdadeira nesse mundo que torcer pelo outro. E aí tava aqui pensando no tanto que é bonito isso de dispor energia, de intencionar os melhores pensamentos, de ter "frio na barriga alheio", de compartilhar aflições, tudo pela vitória do outro.
Esse torcedor, ele se doa - e aí são muitas as maneiras de se doar - e não quer nada pra si. Tipo mãe na beira do campo de futebol vendo o filho disputar campeonato do colégio, sabe? Mas mais especial ainda por não ser mãe. Já que mãe e torcedor são, na verdade, uma grande redundância.
Verdade que é o outro quem saboreia a vitória, recebe a medalha no peito, leva o troféu pra casa. O que o torcedor ganha é a alegria irradiada. Não tem olho que não brilhe. Porque alegria compartihada e comemorada reverbera. E acredito mesmo(!) que isso seja recompensador sempre!
Dia desses, em meio a uma multidão descontextualizada, recebi um abraço amigo acompanhado de um "boa sorte" tão de verdade que continha naquele único abraço os braços de toda uma romaria e umas 300 palavras prensadas naquelas duas. Era disso que eu tava falando. E que na hora não pude falar pelo nó na garganta causado pelo recado entendido.
Coisa boa é torcer. Coisa boa é ter torcida. Eu reconheço a minha no olhar. Ela não é pequena e eu falo isso sem nenhuma modéstia. Torcida dessas se conquista é com amor recíproco. E por eles eu torço, mentalizo, peço, me esfolo, visto camisa, brado, tomo partido...fica até meio parecido com aquela outra torcida lá. Quero que vençam, quero que sejam felizes, que os olhos brilhem, que os sorrisos explodam, e depois quero ficar ali por perto, esparramada na alegria irradiada.
Essa torcida aí, desse jeitinho aí, ela é tão genuína, mas tão genuína, que aquele personagem que sempre haverá, o que torce contra, o secador, pfff, ele fica tão pequenino e inexpressivo que imagino que nem tenha mais caracteres pra que se possa terminar de falar dele nesse text