quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dia da sogra

Procura-se uma sogra.
Que não tenha assim MUITOS dotes culinários. Ou, se tiver, que tenha assim MUITA paciência pra ensinar.
Que, além do filho que me caberá, tenha ela outros. Aliás, quanto mais melhor.
Que goste de jogar canastra, mau-mau, buraco. Dominó, não. Ou, ao menos, que jogue uma boa conversa fora.
Que ela tenha uma risada pra fora, sonora, não muito curta, pra acompanhar a minha. É, era bom que a sogra fosse dada ao riso.
Que goste de contar histórias. Pode contar a mesma várias vezes que eu ainda ajudo a incrementar. Sou craque!
Que ela tenha as mãos macias (e há mãos macias nas mais ásperas palmas de mão) para fins dos netos que ela terá. Mas também pra segurar na minha porque quero uma sogra que segure na minha mão.
Que, se tiver um sogro pra mim ao seu lado, eles sejam um casal muito fofo. E se não tiver, que ela tenha vivido uma boa história de amor. Sogra sem amor é complicado de administrar.
Não é uma exigência imprescindível, mas ia ser muito legal se o sobrenome que ela me emprestasse (eu sei que é o do sogro, mas enfim, estou com o foco na sogra) fosse no plural ou no diminutivo. Minha fixação por plural relaxou um pouco e tenho criado afeição pelos inhos (moutinho, coutinho, passarinho etc.).
E que ela ache muito legal essa minha ideia de fazer o caminho inverso, de procurar primeiro por ela, e se sentindo toda especial (sendo!) queira ser minha sogra. Porque sogra que não me queira como nora...essa não quero, não!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Continuar e começar

Não lembro bem quem foi que disse e nem em qual rede social eu li, mas era algo mais ou menos assim: "Hoje eu não quero nada que comece, quero alguma coisa que continue". Pode ter sido a Tati Bernardi que diz umas coisas dessas bem bacanas e que a gente tem a impressão de já ter pensado mas não conseguiu organizar em frase pronta pra ser verbalizada.
Continuar é bom, verdade. Continuar é manso e começar é meio revolto. E se for pra classificar assim num contexto revolucionário (salve as pequenas revoluções!), continuar seria a direita e começar seria a esquerda - isso se direita e esquerda ainda conseguissem significar aquelas coisas que costumaram significar um dia. Se bem que direita e esquerda talvez não sirvam pra classificar continuar e começar. Ou servem? O que sei é que tem a hora do continuar e tem a hora do começar. E é preciso olhar pra dentro e ao redor ao mesmo tempo para saber qual dos dois verbos empregar.
Há mais de um ano eu continuava. Era pra ser assim, me diziam o olhar pra dentro e o olhar ao redor. Acontece que a zona de conforto (porque continuar é confortável pra caramba) começava a apresentar um desconforto escondido lááá no canto, e de repente ficou tão desconfortável que eu me expulsei de dentro dela a chutes e ponta-pés. Me puxei mesmo pelos cabelos, porque se expulsar da zona de conforto não é coisa simples de fazer não.
E aí comecei. E que grata surpresa com o emprego acertado do verbo. E que boa primeira impressão desse começar!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Levantou poeira

Não é que eu ande varrendo as coisas pra baixo do tapete. Ou é? Vai ver que até varro, mas como não sou dada às prendas domésticas, acabo deixando espalhadas pela casa aquelas poeirinhas que não consigo juntar num montinho suficiente volumoso para que pudessem ser alcançadas pelas cerdas da vassoura. A vassoura é das boas, não é essa a questão. O problema é ela ser manipulada por um ser humano desses com pouquíssima coordenação motora para as atividades do lar feito eu. E aí essas poeirinhas ficam por lá, vários motins de poeirinhas, à espera da destreza que não tenho. E acho justo que elas, as poerinhas, me olhem feio e fofoquem entre si num tom cheio de cobrança porque falta de destreza não é desculpa pra largá-las ali. Muito menos pra sufocá-las embaixo do tapete. Dizer que elas sequer se avistam é d´uma tremenda cara de pau. Basta passar o dedo no chão e atestar, ali elas permanecem empoeirando a casa toda. Ignorá-las, seja por preguiça, por cara de pau, ou por dor nas costas, carrega mesmo um quê de masoquismo porque é bem isso que vai acontecer: os motins de poeirinhas logo se chamarão ácaros, me entupirão as vias aéreas, me empolarão a pele e eu vou ter que pegar a vassoura - porque dar fim às próprias poeirinhas não é função delegável - e tossindo, espirrando e me coçando, varrerei tudo como se deve. Pra fora da casa.