quarta-feira, 1 de novembro de 2006

A Fila


Há dias que eu dizia pra todo mundo que ia madrugar no Palácio das Artes pra comprar o ingresso do Chico. E todo mundo reagiu achando tão absurdo, que eu acabei me permitindo dormir até às 8.30... Não poderia ter escutado ninguém, deveria ter levado em conta o mau gosto musical das pessoas (que me perdoem, heheheh)!!
Umas 9.15, desço eu do ônibus, e quando me aproximo da Afonso Pena me deparo com aquilo: uma fila de dois quarteirões pra comprar os ingressos, e a bilheteria só abriria às 10. Juro que tive vontade de chorar!!!
Mando mensagens para mamãe e para o namorado, só pra desabafar mesmo, dizendo que eu era a ultima de um fila de dois quarteirões e que ver o Chico de perto estava ficando meio complicado. De volta, recebi incentivos: "Não desista, vale a pena". E lá fiquei, com apenas um Tagifor C no estômago pois como acordei tarde nem deu tempo de fazer nada.
Às 10.30 recebo reforços, Luciana e Daniel (só tinha avançado 7 passos, mais ou menos, até então). E os amigos se assustaram, a fila ja era de 3 quarteirões!!
Gente de todo o tipo, de todas as idades, lendo jornal, estudando, batendo o papo, fingindo que dava pra levar numa boa aquela monstruosa espera que se apresentava.
Engraçado era ver as pessoas que passavam por lá, com caras pasmas e de interrogação. Acho que o rapaz que estava na minha frente tinha cara de informações, todo mundo só perguntava pra ele, coitado: "Pra que é essa fila?" "É pro show do Chico Buarque" "Aaaah, é de graça?" "Não, tem ingresso de até 140 reais" "Aaaaa, é hoje?" "Não, é só em dezembro!!" "Hummmm..."
Quase duas horas da tarde, chegamos na esquina. Uma vitória. Mandei mais mensagem pra Belém pra dizer que eu ja estava entrando no primeiro quarteirão! Morta de fome. Acabaram todos os salgados da lanchonete do supermercado ali perto. Não se prepararam para abastecer a fila. Arranjei uma empada.
Três da tarde, faço uma brincadeira: "Acho que vamos ter que ir direto daqui pro teatro, nove da noite" (Tínhamos comprado ingressos pra uma peça da Marisa Orth e Murilo Benício). Todos morreram de rir. Mal sabíamos...
Luciana desiste logo depois das três. Eram muitos os boatos de que a meia entrada já havia acabado, continuávamos na esquina (nenhum passo a mais), cada pessoa podia comprar 10 ingressos (!!!!!), tava um sol de rachar e todos os velhinhos podiam passar na nossa frente. Realmente ir pra casa era uma solução bastante sensata.
Seis da tarde, eu e Daniel, já cheios de amigos na fila, começávamos a desanimar. Os velhinos não paravam de chegar. Todo mundo da fila buscando seus avós em casa pra comprar ingressos. Confusão. Indignação do povo que dormiu em frente ao Palácio e tinha que assistir tudo quanto é maior de 60 anos de Belo Horizonte passar na frente, comprar 10 ingressos e depois de um tempo voltar para mais 10 ingressos na maior cara de pau!
Passa um infeliz com um megafone dizendo que a bilheteria ia fechar oito da noite e que eles venderiam ingressos pra todos que já estivessem dentro do Palácio (só em sonho pra nós que há horas não dávamos um passinho pra frente) e que distribuiriam senhas para voltar no dia seguinte se sobrasse ingressos.
Definitivamente, precisávamos de um maior de 60 anos!!!
No final das contas, tivemos que nos render à malandragem oficial, infelizmente e envergonhadamente (juro!!!).
Às sete e meia da noite, 10 horas depois, nossos ingressos estavam em mãos (nas mãos da redentora mãe do Daniel).
Bolhas nos pés. Dor de cabeça. Dor nas costas. E ingresso pra ver o Chico na platéia 1 do Palácio.
Viva o Chico!
Morte ao Palácio das Artes!