domingo, 21 de fevereiro de 2010

Up in the air

Eu poderia escrever zilhões de coisas sobre "Up in the air". Até evitei o bate-papo pós cinema porque acho que só pararia de falar com a chegada da corriqueira rouquidão.

Como adepta e entusiasta da filosofia "viajar é preciso" a identificação com a história é automática e o contexto em que se passa a trama me é muito familiar.

O fato é que há um monte do Ryan (personagem do George Clooney) nessa nossa geração cool de desapegados, descompromissados, sempre "em frente e avante" para abraçar o mundo inteiro sem na verdade abraçar ninguém.

Visto a carapuça e digo, sem pestanejar: aceitaria AGORA uma vida que significasse viajar, viajar e viajar. Conhecer gente, lugares, culturas, sem passagem de volta, sem data de retorno. Tranquilo. Vamo lá. Saudade administra-se.

Mas o quanto há de verdade nesse desapego?

Daí volta-se ao filme. "Up in the air" retrata a solidão do tal homem moderno, para quem a ausência de raízes e ligações pessoais não é um problema, mas uma maneira de viver a vida. O personagem não finca os pés, passa mais tempo em deslocamentos aéreos do que em terra. Tem mais afinidades com aeromoças e comissários de bordo do que com família e amigos. Fica mais à vontade com os procedimentos de embarque e desembarque do que em uma reunião familiar.

Claro que há muita caricatura em tudo isso, mas é possível levar uns bons tapas na cara.

Por que tanto medo de "estacionar"? Viajamos pra ir ao outro lugar ou para fugir de onde estamos? Ou porque não achamos o que procuramos? Ou porque, simplesmente, nem descobrimos o quê procurar?? Daí inventamos uma justificativa qualquer (no filme, a meta do personagem é voar 10 milhões de milhas) para dar algum sentido a essa ansia de não parar.

A cena final é perfeita em retratar essa confusão. Ryan tem, em milhagens, a possibilidade de voar para onde quiser. Poderia dar diversas voltas ao mundo. Mas termina imóvel frente a um enorme painel de embarques com incontáveis destinos a lhe piscar, sem saber pra onde ir. Qual destino, afinal, faz sentido quando não há pelo que ficar ou pelo que voltar?

Não, a vida NÃO cabe em uma mochila. E as relações pessoais são um peso IMPRESCINDÍVEL de se carregar. Necessitamos SIM dos laços para (bem) viver, ainda que estejamos nos moldando às novas formas de atá-los.

BAUMAN que me perdoe, mas, no final das contas, a vida, a modernidade, as relações, não são tão líquidas assim...

Nenhum comentário: