quarta-feira, 8 de julho de 2009

"Lá sou amiga do rei..." (ou do Príncipe)

Ah, queria muito postar dia a dia da FLIP e todos os detalhes ali vividos, mas enfim, tanto tempo já se passou e o maldito cotidiano reinou. Pra não perder as lembranças, posto o texto escrito para o www.guiart.com.br numa espécie de resumão que só fez aumentar meu banzo... E aí o que for lembrando e que tenha ficado de fora, acrescento e, pá, fica tudo certo, hehehe.

Olívia Hime disse que a primeira FLIP a gente nunca esquece e ela tem razão.
Chegar a Paraty e se deparar com as suas tendas e ornamentos, tudo montado no centro histórico e suas pedras sabão, é mesmo como entrar num mundinho mágico, um universo paralelo onde todo mundo festeja a literatura. Árvores de livros, bonecos de papel marchê na praça, balõezinhos de São João por todo lado. Uma cidade enfeitada de Manuel Bandeira.

Encantamentos à parte, assistir aos debates dos autores é maravilhoso. E exceto pela mesa badalada do Chico Buarque, cujos ingressos esgotaram em minutos, o acesso é super democrático: por R$30 assiste-se na Tenda dos Autores, por R$10 na Tenda do Telão, e caso não se consiga mais nem um, nem outro, basta estender uma canga na grama e se concentrar, o telão é visível a todos. Paulo Betti que o diga, estava sempre por ali.

Das pérolas que pude assistir, preciso citar Domingos de Oliveira, a falar de “Separações” e a invenção de uma nova moral nas relações amorosas, a nossa estaria ultrapassada; Sophie Calle e Grégoire Bouillier, ex-amantes que se reencontraram em Paraty após um rompimento por e-mail, protagonizaram a melhor lavagem de roupa suja da história; Antonio Lobo Antunes, escritor português de coração paraense, em uma ode ao oficio de escrever, foi certamente um dos pontos altos da FLIP; e claro, o Chico, que a meu ver fez o impossível: uma cidade inteira parar em silêncio absoluto para ouvir a leitura de um trecho de “Leite Derramado”, respeito que se estendeu a Milton Hatoum, seu companheiro de mesa e que não merecia menos.

Na Casa da Cultura, o pernambucano Marcelino Freire batia panela no juízo dos leitores, acompanhado do angolano Ondjaki e do carioca Marcelo Moutinho, todos autores do Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa. Dali saíram as melhores cutucadas ao (des)acordo ortográfico que se pode imaginar. E viva o trema! E viva a diferença!

Voltando aos Hime, Francis e Olívia fizeram um show lindo na Tenda dos Autores. Ele, muito feliz. Ela, muito rouca, tratou de avisar que não era gripe suína. Claro que todos tinham esperança de uma participação do Chico, o que logo se desfez quando Francis cantou “Meu Caro Amigo”: “o Chico aproveita pra também mandar lembranças, a todo o pessoal, adeus”.

E no meio de tudo isso, seguindo um burburinho de festa e cometendo a ousadia de entrar na casa do príncipe, D. João Henrique de Orleans e Bragança, me deparo com um sarau de poesias no quintal real. Uma lareira convidativa, o príncipe ao lado, e a noite termina com um flautista tocando “Carinhoso”, música preferida de Manuel Bandeira, seguida de uma proposta de abraço coletivo para ir embora sob as bênçãos dos poetas. Juro!

Na volta pra casa fica muito claro que a FLIP cumpre seu objetivo. Da primeira poltrona do ônibus, olho pra trás e a constatação é linda: todas as pessoas, sem exceção, têm livros abertos nas mãos


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* É preciso acrescentar que Paulo Betti era encontrado e reencontrado a todo momento, em todos os lugares. Ah, detalhe, 5 dias com a mesma blusa de frio. Campanha do agasalho pra ele, já!


* Ficou de fora o Davi Foenkinos. Autor francês, maluco, que se auto-intitula cômico-depressivo e de fato o é. A mesa dele foi sobre o livro "Em caso de felicidade". Um papo sobre ditados polacos inventados, um personagem dono de uma agencia de viagens para quem não viaja, outro colecionador compulsivo que frequentava o Colecionadores Anônimos (onde todos sentavam exceto aquele que colecionava momentos em pé). Dele, comprei "O Potencial Erótico da Minha Mulher" e fui toda serelepe falar francês... ele me respondeu em inglês, espanhol, português, tudo, menos francês. Ok.


*Iiiih, e a descoberta da cachaça de Paraty? Enfim, foi conhecer a Gabriela e amor ao primeiro gole. Tornou-se, a Gabriela, o nosso "Floral de Bar", hehehehe. E viva os trocadilhos!



Um comentário:

Renata disse...

Nem sei o que dizer. Mal posso esperar pelo ano que vem.