sábado, 19 de março de 2011

O Dramin, o Rio e o Ondjaki

Talvez eu já tenha perdido o "timing" de contar do Carnaval. Mas é que rendeu assunto/risada/lição pra mais de dez feriados. Acho que vale a pena guardar na memória (aqui denominada blog) em forma das Tirinhas Carnavalescas, tal qual o ano passado (ê saudade do Récife!). Vou fazer. Num próximo post. Porque esse, de tirinha, nada tem.

É que tava aqui lembrando do quanto me faltava espírito carnavalesco enquanto rumava ao RJ. E aí tomei um dramin para apagar e acordar lá no Galeão pronta para ser contaminada pelos fanfarrões ao redor.
Acontece que no meio do caminho havia Fortaleza. Havia duas horas no aeroporto de Fortaleza no meio do caminho. Dopada, não conseguia manter a cabeça ereta. Muito menos os olhos abertos. E me apavorava com a ideia de perder o voo e passar o carnaval no Beach Park. Pensei em escrever num papel o numero do voo, horário e destino para que algum bom samaritano me acordasse para o embarque. Não tinha forças pra escrever. E decidi que era exagero. Não era: num acordar sobressaltado entrei na fila do embarque de um voo para Campinas. Fui barrada, ufa! Ainda preferiria o Beach Park.
Alcançado o destino correto, um pouco grogue mas já bem dona de mim, uma fatia de escola de samba me recebe no desembarque. Putz, não fui contaminada. Achei a mulata feia, as roupas de mau-gosto, a bateria descompassada. Problemão!
Mas o Rio, sábio, macaco-velho, cheio de manha, tascou na minha frente um dos meus escritores "nova-safra" favoritos: Ondjaki, fofo, angolano, por quem tenho enorme carinho e de quem levava um livro na bolsa que pretendia ler na viagem, pretensão frustrada pelo dramin. Sentei ao lado dele pra esperar o ônibus e enquanto ele fumava um cigarro que não me incomodou, eu ri de canto de boca já contaminada pela receptividade personalizada do Rio de Janeiro.
No ônibus, fui lendo Ondjaki atééééé Copacabana, e ele me disse assim ó:

"Sabes o que é não sentir o coração e sentir o coração, tud' uma batida só, sangue leve no peito e lágrimas limpas a escorrer? Faz conta foste na pesca, rede e tudo, e em vez do peixe grande meteste a rede na água e te veio uma nuvem? Se é impossível? Eu sei lá, avilo, eu sei lá... Desde candengue que ando então a ver as nuvens dançar nas peles do mar, e me pergunto: assim calminho, liso tipo carapinha com desfrise, o mar não tem as nuvens dele também? De onde eu venho é muito longe, por isso, juro mesmo, nasci de novo. Vou te confessar: espanto é só aquilo que ainda nunca tínhamos vivido com a nossa pele!
Avilo, desculpa tanta filosofia, o que tenho é sede mesmo.
Num tenho dinheiro, num vale a pena te baldar. Mas, epá, vamos só desequilibrar umas birras (cervejas); sentas aí, nas calmas, eu te pago em estória, isso mesmo, pura estória daquelas com peso de antigamente, nada de invencionices de baixa categoria, estorietas, coisas dos artistas: pura verdade, só acontecimentos factuais mesmo. A vida não é um carnaval? Vou te mostrar alguns dançarinos, damos e damas, diabo e Deus, a maka da existência."

Duas primeiras lições do Carnaval:
1 - Dramin, nunca mais;
2 - O Rio tem todas as manhas pra me conquistar, até quando eu ACHO que estou difícil!

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