segunda-feira, 22 de maio de 2006

Não, a imagem não supera as mil palavras!

“A imaginação surge, assim, como algo impreciso, situada entre dois tipos de invenção – criação inteligente e inovadora, de um lado; exagero, invencionice, mentira, de outro.” (Convite à Filosofia, de Marilena Chauí.)

Tudo bem que o verbo imaginar tem muito mais a ver com “imagem” do quê com palavra, mas começo a pensar que a imagem da imaginação é pra ficar por lá mesmo, na imaginação.
Será que me fiz entender? É como se em algum lugar dentro da nossa cabecinha houvesse muitas páginas em branco, e a gente vai preenchendo tudo de um jeito só nosso, decorando com imagens, cores, sons, tudo de um jeitinho muito próprio que é nosso e de mais ninguém. É que quando sai da nossa imaginação e vai pro “mundo real”, onde a gente vê com olhos físicos, não mais só com os olhos da imaginação, meio que... perde o encanto.
É por isso que tenho questionado o ditado que diz que uma imagem vale mais que mil palavras. Acho que prefiro as mil palavras. O que há de mais fantástico em ler um livro é isso: a partir de um parâmetro, que é o texto, a gente inventa as imagens naquelas nossas páginas em branco misturando muito de nós mesmos pra dar vida às palavras do autor.
Cada personagem tem um rosto que fui eu quem construiu, expressões, trejeitos, um levantar de sobrancelhas que fui eu quem esculpiu. Uma brincadeira de inventar maravilhosa.
Ir ao cinema ver o filme do livro é complicado pra nós, inventores de mundos imaginários. Aquele vilão monstruoso aparece atlético, o final emocionantíssimo que fez umedecer os olhos, foi cortado e adaptado para se encaixar melhor em Hollywood. Humpf!
Claro que são linguagens diferentes, o livro deixa à vontade, total liberdade para as invencionices. O filme dá menos trabalho, mostra mais, é imagem e palavra, pra depois do cinema, na hora da pizza com os amigos, ficar debatendo as mensagens, o roteiro, a direção, enfim. Mas é que o filme do livro, esse tolhe demais, salvo raríssimas exceções, são muitas amarras pra quem já construiu um mundo inteiro que foi muito além...
Por isso fico com as mil palavras.
No primeiro dia de aula, aqui em Belo Horizonte, entrei na sala e encasquetei que conhecia um menino de algum lugar. Mas como poderia conhecê-lo? Nunca vim aqui antes, cheguei uma semana antes de começar as aulas, não tinha como ser! Três meses depois, descobri. Mas não tenho como explicar pra ele. É que ele é a cara do José Arcádio. O filho do José Arcádio Buendía, aquele que mora em Macondo, casado com a Úrsula, todos criações do Gabriel García Márquez em Cem Anos de Solidão, e construídos por mim nas páginas em branco da minha imaginação.
É isso. Na PUC, todos os dias, sento atrás do José Arcádio. Meu amigo é o José Arcádio, não tem o que tirar nem pôr, cara de um focinho de outro. É por isso que eu prefiro as mil palavras.

4 comentários:

Renata disse...

Concordo com tudinho...
Acho que o Silas diminuiu uns centímetros e fez uma lipoaspiração no intervalo entre as nossas imaginações e a estréia no cinema. Quanto ao José Arcádio, ainda preciso construir...

Anônimo disse...

claro. com um rosto, uma personagem pode haver essas interpretações dúbias de personagem do livro x ator (afinal, a imaginação é infinitamente maior que o numero de atores disponiveis no mercado). mas é muito bom quando sao coisas inanimadas, como uma paisagem, um carro incrementado, uma maquina do tempo, uma pais de doces... ainda fico com o filme!!! agora quando ler o codigo da vinci, sei exatamente como o silas deve ser ;)

Anônimo disse...

Querida, ontem, quando a mãe me avisou que a filhota tinha um blog, vim aqui pra dar piteco no aniversário da mãe. Hoje voltei pra ler os posts e dei de cara (ou de olhos, apenas) nessa maravilha de entendimento entre a imaginação e o real.Eu também, querida, prefiro as palavras que me levam a imaginar a nervura do real, assim, como no título do livro da nossa guru, Marilena Chauí. Beijo.
PS: Hummmm!!! Acho que uma certa mãe vai começar a ficar enciumada se eu insistir em vir por aqui todos os dias!

Mr. Od disse...

Pô Maíra...não ia te dar essa moral, te juro que jurei pra mim mesmo não comentar nada do teu blog só por causa daquele postzinho arrogante e nada simpático que fala dos "novos amigos", mas este aqui mereceu!
Parabéns mesmo!!
Você tem o dom. :)