quarta-feira, 22 de junho de 2011

Troço genial

Música é um troço genial. E eu nem me atreverei a desenvolver essa frase porque é só isso e ponto.
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No documentário "Rio Sonata", que homenageia Nana Caymmi, alguém disse por lá uma coisa que eu bem já havia dito por aí. Não dá pra ouvir Nana como música de fundo, música ambiente, música de elevador, sabe? É preciso não estar fazendo mais nada. Porque é preciso se concentrar pra ouvir Nana, prestar atenção mesmo, se entregar. Porque é intenso. Dá até pra se perder por aí (aqui) no "em si" da gente. E se perder com Nana, experimenta, é bom! Nem acho triste, nem sofrido ou sinônimos. Acho é verdadeiro pra caramba. Nana canta com uma verdade cruel - essa foi outra coisa que disseram no documentário e que eu também concordo.
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Eu me emociono com música de um jeito específico. Tá lá na pastinha "emoção musical". É diferente das outras emoções. Me emociono com a música, me emociono com quem se emociona com a música que me emociona e me emociono com quem faz a música que me emociona. Tudo isso tá lá nas sub-pastinhas dentro da pastinha "emoção musical".
E aí por isso acho o maior barato esses documentários todos. "Uma noite em 67". "Música é Perfume". "Coração Vagabundo". E acho outro barato os livros. Fui muito feliz a cada página lida do "Os sonhos não envelhecem". E tenho uma penca de amigas apaixonadas pelo Lobão de um jeito diferente pós-livro "50 anos a mil".
Não foi por outro motivo que presenteei, cheia dos interesses egoístas, o meu pai com o "Gonzaguinha e Gonzagão, uma história brasileira", e a senhôura minha mãe com a biografia do "tremendão" que já está ali na minha cabeceira aguardando a sua vez.
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Eu, que já gostava um tanto assim de Nana Caymmi (e como é que não se gosta de um Caymmi vindo todos daquela árvore linda chamada Dorival?) saí da sala de cinema na maior vontade de jogar uma partidinha de canastra com ela. Deixava até ela bater! Só porque ficou muito claro que quando ela faz uma canastra-real enche o pulmão e solta um palavrão terrível entoado assim numa nota bem grave.
É, porque agora eu sei que ela joga canastra, fala palavrão, tem um senso de humor ótimo, nunca cantou baixinho nenhuma bossa nova e nem viu graça nenhuma na Tropicália, mesmo tendo sido casada com Gilberto Gil.
Mas se teve uma coisa que me fez gostar mais ainda da Nana, foi ver que quando ela ouve uma gravação daquelas que mexe com os brios, não conta conversa: puxa os cabelos pra cima, bagunça tudo, embaraça, se descabela, sabe do que eu tô falando?
Olha, eu respeito muito quem se descabela assim instintivamente, como uma consequencia natural de uma emoção. Como quem diz "Gente, que coisa mais linda, pra quê penteado diante disso?".
Aí, ficou tocando na minha cachola à dentro, a noite toda, "Caju em Flor", do João Donato. Com a voz da Nana. E eu me descabelando. Daquele jeito. Tão lindo, né, gente, pra quê cabelo desembaraçado diante disso?
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CAJU EM FLOR: Nem você sabe a sorte que me dá / A você, de amor, eu lhe chamar / Ser seu bem sob o céu de Oxalá / Meu anjo bom, meu manacá / Em Belém, onde tudo aconteceu / Eu senti no momento em que bateu / Encontrei esse amor que vem de lá / Caju em flor / Meu bem vem cá / Nem parei pra pensar se dava pé / Me deixei arrastar pela maré / Naveguei ao sabor do Rio-Mar / Esse amor que eu guardei / Foi presente de Yemanjá.
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Música é um troço genial. Não é?

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