segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sobre pêlos, peito e cotovelo

Encravou-lhe um pêlo no peito.
Pêlo, assim, com acento circunflexo mesmo. A reforma ortográfica que vá às favas, porque é o seu próprio pêlo, encravado no seu próprio peito, e o mínimo que lhe cabe é dar-lhes a grafia que quiser.
Lembrou da história que Helena contou sobre o livro do Haroldo Maranhão. Um que narra as aventuras de Filipe Patroni. Tá, não era bem sobre pêlo encravado no peito o que Helena contou. O livro era o "Cabelos no Coração", e a ideia da expressão, salvo engano de interpretação, é a de que a pessoa é tão dura/cruel/sem compaixão que nascem-lhe cabelos no coração.
Lembrou disso porque o livro muito lhe interessou e ficou de procurar nas estantes virtuais da vida. Só por isso. Porque insensibilidade não era o caso da personagem do pêlo encravado. Vixe! Longe de ser!
E como se não bastasse todo esse abuso de licença poética, encravou-lhe um pêlo no cotovelo.
Desse jeito mesmo, tipo piada pronta, se de verdade não fosse.
Tinha um pêlo encravado no peito e outro encravado no cotovelo.
O do peito estava lá, feio e tudo mais, mas indolor. O do cotovelo, argh, inflamado, dolorido...Encostar os braços na mesa pra pensar, nem pensar! Pensar dói uma dor aguda quando se tem um pêlo encravado no cotovelo.
E como tudo isso começou a parecer muito uma metáfora de outra coisa, adentrou-se de uma vez no sentido figurado da questão. Por que não? Foi quando recomendaram-lhe: "Espreme eles! Espreme, mas não esquece de ler o que tem dentro". No que respondeu: "Mas e se peito e cotovelo não falarem a mesma língua?".
E não falam.
Moral da história: o cotovelo não age conforme o peito; e, menos ainda, peito nenhum age conforme o cotovelo.

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