quinta-feira, 23 de julho de 2009

Julho, eu gosto.

Taí um projeto de vida interessante: morar em Belém apenas no mês de julho.
Andei pensando nisso e precisava deixar registrado. Vai que um belo dia descubro um talento obscuro e consigo viver de algo que me possibilite algumas excentricidades, né?

Julho é lindo. Não tem trânsito, não tem menino indo pra escola (e pra quem mora cercada pelos maiores colégios da cidade isso faz uma diferença que...), não tem chuva (ou ao menos chove-se muito pouco), não tem quase barulho e, o principal, os dias são muito, MUITO, muito bonitos! Cada fim de tarde que... ééééégua.

Outro item sensacional que contribui para esta paixão julina é que tem programação noturna a semana inteira. E sim, encontra-se os amigos deeesde a segunda-feira! E eu a-do-ro sair dia de semana, muito mais que sextas ou sábados. Aquela coisa, né, excentricidades.

O trabalho é sempre meio manso, pois não há burro de carga que consiga produzir 100% num calor infernal. Ouvi esse papo numa época em que não trabalhava e tinha certeza que era pura preguiça. Pois não é. Há algo nesse "quente e úmido" que suga as nossas energias, atormenta e inviabiliza a produção. Além do mais, os clientes parecem estar tão mais ocupados com o verão que deixam a gente bem mais em paz.

Ih, e já ia esquecer. Morar em Belém é ter sempre amigos indo e vindo. Sempre alguém vai embora. Sempre tem outro alguém voltando. Aí, chega julho, verão, sempre aparecem uns amigos amados a nos visitar - esse pensamento vale também para outubro e dezembro, é incrível como a população de gente querida dobra nesses meses.

Ó, talvez até dê pra aumentar esse tempo de estadia do projeto de vida: podia morar em Belém em julho, outubro e dezembro. Que tal?

Se bem que essas tardes lindas, como as de julho, não há!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

"Lá sou amiga do rei..." (ou do Príncipe)

Ah, queria muito postar dia a dia da FLIP e todos os detalhes ali vividos, mas enfim, tanto tempo já se passou e o maldito cotidiano reinou. Pra não perder as lembranças, posto o texto escrito para o www.guiart.com.br numa espécie de resumão que só fez aumentar meu banzo... E aí o que for lembrando e que tenha ficado de fora, acrescento e, pá, fica tudo certo, hehehe.

Olívia Hime disse que a primeira FLIP a gente nunca esquece e ela tem razão.
Chegar a Paraty e se deparar com as suas tendas e ornamentos, tudo montado no centro histórico e suas pedras sabão, é mesmo como entrar num mundinho mágico, um universo paralelo onde todo mundo festeja a literatura. Árvores de livros, bonecos de papel marchê na praça, balõezinhos de São João por todo lado. Uma cidade enfeitada de Manuel Bandeira.

Encantamentos à parte, assistir aos debates dos autores é maravilhoso. E exceto pela mesa badalada do Chico Buarque, cujos ingressos esgotaram em minutos, o acesso é super democrático: por R$30 assiste-se na Tenda dos Autores, por R$10 na Tenda do Telão, e caso não se consiga mais nem um, nem outro, basta estender uma canga na grama e se concentrar, o telão é visível a todos. Paulo Betti que o diga, estava sempre por ali.

Das pérolas que pude assistir, preciso citar Domingos de Oliveira, a falar de “Separações” e a invenção de uma nova moral nas relações amorosas, a nossa estaria ultrapassada; Sophie Calle e Grégoire Bouillier, ex-amantes que se reencontraram em Paraty após um rompimento por e-mail, protagonizaram a melhor lavagem de roupa suja da história; Antonio Lobo Antunes, escritor português de coração paraense, em uma ode ao oficio de escrever, foi certamente um dos pontos altos da FLIP; e claro, o Chico, que a meu ver fez o impossível: uma cidade inteira parar em silêncio absoluto para ouvir a leitura de um trecho de “Leite Derramado”, respeito que se estendeu a Milton Hatoum, seu companheiro de mesa e que não merecia menos.

Na Casa da Cultura, o pernambucano Marcelino Freire batia panela no juízo dos leitores, acompanhado do angolano Ondjaki e do carioca Marcelo Moutinho, todos autores do Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa. Dali saíram as melhores cutucadas ao (des)acordo ortográfico que se pode imaginar. E viva o trema! E viva a diferença!

Voltando aos Hime, Francis e Olívia fizeram um show lindo na Tenda dos Autores. Ele, muito feliz. Ela, muito rouca, tratou de avisar que não era gripe suína. Claro que todos tinham esperança de uma participação do Chico, o que logo se desfez quando Francis cantou “Meu Caro Amigo”: “o Chico aproveita pra também mandar lembranças, a todo o pessoal, adeus”.

E no meio de tudo isso, seguindo um burburinho de festa e cometendo a ousadia de entrar na casa do príncipe, D. João Henrique de Orleans e Bragança, me deparo com um sarau de poesias no quintal real. Uma lareira convidativa, o príncipe ao lado, e a noite termina com um flautista tocando “Carinhoso”, música preferida de Manuel Bandeira, seguida de uma proposta de abraço coletivo para ir embora sob as bênçãos dos poetas. Juro!

Na volta pra casa fica muito claro que a FLIP cumpre seu objetivo. Da primeira poltrona do ônibus, olho pra trás e a constatação é linda: todas as pessoas, sem exceção, têm livros abertos nas mãos


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* É preciso acrescentar que Paulo Betti era encontrado e reencontrado a todo momento, em todos os lugares. Ah, detalhe, 5 dias com a mesma blusa de frio. Campanha do agasalho pra ele, já!


* Ficou de fora o Davi Foenkinos. Autor francês, maluco, que se auto-intitula cômico-depressivo e de fato o é. A mesa dele foi sobre o livro "Em caso de felicidade". Um papo sobre ditados polacos inventados, um personagem dono de uma agencia de viagens para quem não viaja, outro colecionador compulsivo que frequentava o Colecionadores Anônimos (onde todos sentavam exceto aquele que colecionava momentos em pé). Dele, comprei "O Potencial Erótico da Minha Mulher" e fui toda serelepe falar francês... ele me respondeu em inglês, espanhol, português, tudo, menos francês. Ok.


*Iiiih, e a descoberta da cachaça de Paraty? Enfim, foi conhecer a Gabriela e amor ao primeiro gole. Tornou-se, a Gabriela, o nosso "Floral de Bar", hehehehe. E viva os trocadilhos!



terça-feira, 7 de julho de 2009

Vou-me embora pra Pasárgada. (1º dia - FLIP).


1º dia, quarta-feira, 01/07/2009.

Poderia começar falando da viagem Rio-Paraty, mas não vivi este momento – um misto de ressaca, sono, Valeriane e Hixizine me apagaram pelas 4 horas de estrada. Vista bonita do lado esquerdo? Costa verde do Rio de Janeiro? Angra? Bom, não vi.
Rumo dos Ventos, nossa pousada, fofíssima e aconchegante, seria perfeita se não fosse a 1,5km de distância das tendas da FLIP. Ainda arriscamos uma primeira caminhada de ida, mas diante das bolhas nos pés e dos encontros com crianças de Paraty voltando da escola de máscaras contra a gripe suína, desistimos. E toma-lhe taxi daí por diante.
De cara pra FLIP – suas tendas e ornamentações – bem no centro histórico da cidade e suas pedras de sabão, impossível resistir ao charme. Árvores de livros, bonecos de papel marchê na praça, balõeszinhos de São João por todo lado. Uma cidade enfeitada de Manuel Bandeira.
Tateando o lugar e entendendo aos poucos o ambiente: Flipinha, FilpZona, Tenda dos Autores, Tenda do Telão, Tenda dos Autógrafos, Casa da Cultura e um desbravamento sem fim do centro histórico de Paraty.
Em frente ao cais, um pouco mais afastado de onde acontece a festa, restaurantes não menos charmosos, música boa e comida melhor ainda. O pedido? Um Chico Buarque, lógico, não só pelo prazer de dizer que comeu-se o Chico, mas porque era um robalo divino.
Até aí, perdi um casaco, ganhei um fã galanteador e encontrei o Paulo Betti umas três vezes. O casaco foi recuperado, o galã estava sempre em horário de serviço e o Paulo Betti me fez crer que é onipresente em Paraty, pois estava em todos os lugares ao mesmo tempo, até o final da FLIP ia acabar cumprimentando o rapaz com aquele sorrisinho típico de vizinho que se encontra diariamente no elevador, sabe?
À noite, show da Adriana Calcanhoto abriu a FLIP oficialmente. Aliás, bem chato. Não condizente com todo o resto. Maldita a hora que ela rimou ‘agora’, ‘adora’, ‘meia hora’, ‘vambora’ e ‘demora’ com a “cinza das horas”. É, porque só pode ter sido por isso.